Entenda como o conflito entre os países impacta o mercado brasileiro.

 

O gás natural é uma fonte de energia com menor impacto ambiental em relação a outros combustíveis fósseis. Comumente designado como o “combustível da transição”, pode ser uma rota para substituir fontes mais poluentes em diversos processos, inclusive industriais, no transporte e na geração termelétrica, além de ser uma fonte firme que abre espaço para alternativas renováveis, como o biogás e o biometano.

Mas qual a relação entre a Guerra da Rússia-Ucrânia e o gás natural?

A Rússia é um dos principais produtores e exportadores mundiais de petróleo e gás e um dos principais supridores da Europa. Em 2021, a Rússia foi responsável por quase 10% de todas as exportações mundiais do petróleo e para a União Europeia, foi responsável por ~40% das importações de gás.

No entanto, quando colocamos a lupa sobre o gás natural, vemos que os preços negociados nos hubs internacionais já seguiam em uma trajetória ascendente desde meados de 2021 (Gráfico 1).

Gráfico 1: Evolução dos preços internacionais de gás natural

Evolução dos preços internacionais de gás natural

Fonte: EIA, Investing e Banco Central. Elaboração: Comerc Gás.

A elevação dos preços é resultado de uma conjunção de fatores que perpassam o aumento mundial da demanda pelo energético, a redução da oferta e dos estoques, principalmente na Europa, e as questões geopolíticas.

Desde o início do ano passado, a demanda mundial de gás tem apresentado franca recuperação como um resultado da diminuição das restrições da pandemia pelos países, à implementação de políticas de transição energética na Europa e Ásia e a uma maior necessidade de geração termoelétrica dada à baixa hidrológica na América do Sul.

Apesar desse aumento, a oferta mundial de gás não acompanhou o crescimento da demanda. Em 2021, as políticas de transição energética da Europa reduziram cerca de 20% da produção de gás, aumentando, assim, a dependência das importações, seja por GNL quanto por gasoduto. Enquanto as infraestruturas de GNL não receberam os devidos investimentos para aumento e manutenção de sua capacidade.

Podemos incluir aos fatores que tem impulsionado a subida de preços, o clima mais quente que o esperado no verão Europeu do ano passado, que requereu maior geração termoelétrica para atender a refrigeração, fazendo com que os estoques reduzissem ainda mais em um período em que usualmente são repostos para o próximo inverno, resultando na menor estocagem dos últimos anos.

Além disso, somado a este cenário, temos a questão do novo gasoduto que conecta a Rússia a Alemanha – Nordstream 2. Este projeto tem sido alvo de grande controvérsia desde a sua concepção, pela intenção da União Europeia de reduzir sua dependência do gás russo.

Com o acirramento das questões entre Rússia e Ucrânia e a pressão de diversos países, incluindo os EUA, a Alemanha, responsável pelo comissionamento deste gasoduto, decidiu suspender a sua chancela. Como represália, a Rússia reduziu sua oferta de gás dos contratos de curto prazo e spot, o que impactou fortemente os preços nos mercados da Europa e Ásia (TTF, NBP e JKM).

Embora a guerra não tenha provocado uma redução dos volumes de exportação de gás russo para Europa, uma vez que o país está cumprindo seus contratos de longo prazo, o mercado respondeu negativamente à expectativa diante da possibilidade de uma interrupção das exportações.

Como resultado, o preço do gás natural na Europa chegou a subir 50% após a invasão na Ucrânia. Esse aumento apoiou os preços spot asiáticos de GNL, que subiram 30%. A expectativa é que os preços do gás natural deverão permanecer extremamente voláteis no atual contexto de incerteza do mercado.

Em resumo, a pressão em cima dos preços do petróleo e do gás natural vem como consequência do conflito, da limitação da oferta dessas commodities, os baixos níveis de armazenamento de gás na Europa e a dificuldade prática que o continente tem de substituir o gás russo no curto prazo.

Apesar de vermos os preços do gás na Europa e Ásia fazendo um verdadeiro rally, o cenário não impactou da mesma maneira o preço do gás nos Estados Unidos. Como ele é formador e não tomador de preço, por sua posição como grande exportador de gás, o Henry Hub é mais impactado pela demanda doméstica do país. No entanto, com o acordo EUA-União Europeia de aumento das exportações americanas para a Europa, o preço do Henry Hub subiu consideravelmente nas últimas semanas.

O plano da União Europeia de redução da dependência do gás russo não trouxe muita novidade, dado que diversos pontos que já estavam sendo trabalhados pelos países. Este é um plano de longo prazo, visto que grande parte vem de aumento da produção de outras fontes e importação de outros países, que requerem, no mínimo, investimentos em infraestrutura.

 

Saiba mais sobre o mercado de Gás Natural no Brasil lendo outros conteúdos do Panorama:

>> Você sabe como funciona o mercado livre de gás natural?
>> O que é Gás Natural? 
>> Movimentos do Mercado de Gás Natural

 

Impactos do cenário internacional no preço do gás do Brasil

O gás natural desempenha um papel importante na matriz energética brasileira, seja no abastecimento da indústria como também no atendimento de termoelétricas em momentos de crise hídrica, como ocorreu em 2021.

Mesmo sem transações diretas deste energético com a Rússia, a volatilidade dos preços no mercado internacional é refletida nas condições praticadas pelo setor de gás natural interno e, consequentemente, nas negociações e preços de outros produtos.

O gás natural que chega às indústrias, postos de combustível, comércio e residências é negociado pelas distribuidoras dos estados que atendem esses usuários. Cada contrato firmado entre as distribuidoras e os supridores trazem regras claras de como e quando a molécula de gás será reajustada.

Essa fórmula de reajuste segue o mercado internacional, ou seja, ela usa indexadores para precificar a molécula de gás natural comercializada no Brasil. Hoje, a maior parte do volume contratado pelas distribuidoras é indexado ao petróleo Brent. Ou seja, em termos práticos, os preços do gás natural no Brasil acompanham a variação de preço do petróleo comercializado no mercado internacional.

Existem outros indexadores ligados diretamente ao mercado de gás natural, como o Henry Hub (Estados Unidos), o TTF (Holanda), o NBP (Reino Unido) ou mesmo o JKM (marcador de GNL Japão/Coreia), mas sua aplicação nos contratos de suprimento de gás natural no Brasil é recente e restrita a poucos casos.

Além disso, é importante ressaltar que esses contratos de suprimento consideram também a taxa de câmbio na precificação da molécula de gás natural. Por isso, a alta do preço do petróleo nos mercados internacionais acaba amortizando os benefícios que a valorização do real poderia trazer para combustíveis e tarifas de gás nos próximos meses.

Os aumentos até então das tarifas não refletem o cenário de guerra, mas o de recuperação da demanda mundial. Como as distribuidoras fazem pass through do custo do gás, ou seja, repassam diretamente suas condições comerciais dos seus contratos de suprimento para os clientes, algumas distribuidoras já aumentaram em mais de 100% nas suas tarifas quando comparadas as de 2020. Infelizmente, próximos meses, o cenário não é animador, sendo esperado que o preço do gás natural no Brasil se eleve ainda mais, podendo chegar em até em +33% (Gráfico 2).

Gráfico 2: Evolução dos preços de gás natural no citygate (Petrobras)

Evolução dos preços de gás natural no citygate (Petrobras)

Fonte: Contratos distribuidoras. Elaboração: Comerc Gás.

 

>> No nosso Comercast, também falamos sobre isso. Ouça agora!

 

Como a COMERC Gás pode me ajudar?

Em momentos como esse é fundamental, mais do que nunca, estar atento aos movimentos dos mercados nacional e internacional.

A Comerc Gás está preparada para suportá-lo no acompanhamento e análise desse mercado, na engenharia de seus contratos, auxiliando a tomada de decisão, inclusive para o mercado livre.

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