Uma mudança na metodologia de cálculo do preço da eletricidade no Brasil poderia reduzir consideravelmente os valores cobrados dos consumidores. Basta alterar a forma de representação do potencial de geração eólica nos modelos setoriais de formação de preço para obter mudanças significativas. No Sudeste/Centro-Oeste, a redução média pode chegar a 36% em 2018 e, no Nordeste, pode atingir 82%. Essa é a conclusão do estudo formulado por Juliana Chade, Gerente de Estudos de Mercado da Comerc Energia, com orientação do professor Ildo Sauer (Instituto de Energia e Ambiente da USP) e co-orientação do professor Dorel Ramos (Escola Politécnica da USP). A tese, concluída este ano, já foi tema de discussão na sede da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), no Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel).

Oportunidade de redução dos preços

A precificação da energia elétrica é baseada, principalmente, nas decisões tomadas pelo ONS, que escolhe entre acionar mais usinas hidrelétricas ou térmicas para atender a necessidade de suprimento energético do país. Sempre que o volume de chuvas, as vazões dos rios e o nível de água armazenada nas hidrelétricas são considerados baixos, o ONS aciona mais usinas térmicas, que são as que, justamente, custam bem mais caro.

Além disso, o Operador também observa as perspectivas de geração de outras fontes antes de recorrer às térmicas. A energia eólica, por exemplo, já representa 7% da capacidade instalada brasileira, com cerca de 12 GW instalados. O plano decenal da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) até 2026 aponta um crescimento da capacidade instalada da fonte, que vai representar 13% da matriz de eletricidade. “No Nordeste, quando temos uma boa oferta de eólica, não é tão necessário usar as térmicas, baixando o custo da geração de energia – podendo evitar, inclusive, a incidência de Bandeiras Tarifárias na conta dos consumidores”.
Mudança na metodologia de precificação
No entanto, o modelo atual usado pelo ONS, baseado num software chamado Newave, parte de cenários que não consideram o potencial real da eólica. “O Newave olha a média da eólica nos últimos anos, sem observar as particularidades que aconteceram a cada mês isoladamente”. A alternativa apresentada pela gerente da Comerc é utilizar os dados históricos reconstruídos de geração eólica em vez de uma média.
Usando este novo formato, o estudo constatou que, quanto pior for o cenário hidrológico, melhor tende a ser o desempenho da energia eólica, em decorrência da complementaridade entre essas fontes. “Isso é muito interessante, porque o preço da energia costuma subir mais justamente quando o contexto hidrológico vai mal. Se as eólicas tiverem uma boa performance nessas épocas, há uma redução da necessidade de uso de energia térmica, ajudando a evitar uma alta tão forte nos preços da energia”, explica Juliana.
O gráfico abaixo revela uma melhor complementariedade da eólica com a hidráulica, comparando uma projeção oficial feita pelo Newave com a simulação utilizando os parâmetros da tese de Juliana:

Gráfico: complementaridade da hidráulica e eólica no Nordeste/ Simulação vs. Caso oficial/ Estudo: Juliana Chade

Simulações que comprovam a tese
As simulações mostram que os custos marginais de operação – que influenciam no preço final da energia – tendem a ficar mais baixos do que no modelo atual. No estudo, foi possível verificar reduções médias anuais de 82%, no caso do submercado Nordeste, para 2018. O efeito também se estende ao restante do país. No Sudeste/Centro-Oeste, por exemplo, a queda média seria de 36% nesse período. Utilizando como parâmetro a série histórica de geração eólica real, há redução dos custos marginais em praticamente todo o horizonte de tempo e em todos os submercados. Juliana destaca que “a simulação também mostra custos marginais menos voláteis, dando maior previsibilidade”.

Gráfico: diferenças entre o CMO nos parâmetros atuais e CMO simulado por submercado/ Estudo: Juliana Chade

O estudo completo foi tema da tese de doutorado da executiva da Comerc, aprovada na Universidade de São Paulo (USP), e também em grandes eventos do setor, como Brazil Wind Power 2017 e no Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica (SNPTEE). O conteúdo na íntegra pode ser acessado neste link.

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